domingo, 26 de outubro de 2014

HIRST, O TUBARÃO E A ARTE SEGUNDO ARTHUR C. DANTO

HIRST, O TUBARÃO E A ARTE SEGUNDO ARTHUR C. DANTO

De acordo com o filósofo Arthur C. Danto, na obra A transfiguração do lugar-comum, uma obra de arte não está presa em sua aparência visual. Isso soa pertinente conforme sua formulação da teoria da arte pós-histórica, que diz que vivemos (desde a década de 1960) em uma era onde o pluralismo na arte é aceito e não há hierarquias nas artes em geral.A aceitação, pelo mundo da arte, de obras que entram em conflito com um objeto banal (como já visto com a “Brillo Box” de Warhol ou “A Fonte” de Duchamp) visualmente idêntico a uma obra de arte pode inspirar a questionar por que um é banal e outro obra de arte. Esse é o caso do tubarão no formol de Hirst, mais conhecido como a obra de arte intitulada “A impossibilidade física da morte na mente de alguém que está vivo” (1991).
O tubarão impressionou e impressiona muitos espectadores que entram em contato com ele, ou melhor, com esta obra de arte. Essa obra se constitui materialmente por um tubarão-tigre conservado por imersão em formaldeído dentro de um cubo de vidro que dá à peça a dimensão de 4,3 metros. O tubarão foi "congelado" no centro do cubo (que funciona como uma espécie de vitrine tridimensional) em uma posição que, embora não faça ninguém duvidar do fato óbvio de que ele está morto, provoca certa estranheza, já que causa a impressão de ter sido, digamos assim, apanhado em movimento.
Como pertencente à arte pós-histórica, como nos diria Danto, esta obra está partilhando da glória de ser uma obra de arte juntamente com outras grandes manifestações artísticas da história da arte. Em convenção com Danto, ter a ventura de estar no momento histórico certo, isto é, quando o mundo da arte estava aberto a receber obras de tal tipo, momento em que o artista é um homem de ideias e sentidos e não um gênio da técnica (ou no caso um pescador de animais marinhos de grande porte) e o mais interessante, a transfiguração já estava bem sedimentada como a pedra angular deste novo panorama histórico da arte pós Duchamp, Warhol e companhia.
 Com isso, o tubarão que nadava serenamente em busca de alimento não era uma obra de arte, mas quando entrou, mesmo após seu falecimento, em um retângulo de formol e sofreu a transfiguração de Hirst, que lhe conferiu sentido, não o deixando preso à aparência retiniana e lhe nomeou de “A impossibilidade física da morte na mente de alguém que está vivo”, aqui morre o tubarão e nasce a estrela, ou melhor, a obra de arte.


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